terça-feira, 2 de dezembro de 2008

ATENTADOS EM MUMBAI, ÍNDIA


Entrevista concedidada à Rádio Eldorado, ao jornalista Caio Camargo, em 01/12/2008.

Vinheta: Entrevista.
Caio Camargo: Está conosco e vai falar ao vivo na Rede Eldorado, o Professor da Pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, também especialista em Estudos do Terrorismo, prof. Renatho Costa. Bom dia professor.
Renatho Costa: Bom dia Caio, bom dia aos ouvintes da Eldorado.
Caio Camargo: Afinal de contas, professor, será que o Paquistão teve algum tipo de influência naquele atentado na Índia, que chamou a atenção do mundo inteiro? Afinal de contas, fala-se muito daquele grupo islâmico extremista Lashkar-e-Taiba, que estaria baseado, estaria lá na parte da Caxemira ocupada pelo Paquistão. E aí, professor?

Ouça a entrevista clicando no ícone abaixo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

ASSASSINATO DE ARQUIDUQUE MARCOU O INÍCIO DA PRIMEIRA GUERRA; OUÇA O HISTORIADOR

Folha Online, 11 de novembro de 2008.

da Folha Online

A Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) deixou mais de dez milhões de mortos e outros 20 milhões feridos. O episódio que marcou o início da luta armada foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em 28 de junho de 1914, durante visita a Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegóvina. Esse atentado se tornou a justificativa para confrontos de antigas rivalidades.
As informações são de Renatho Costa, mestre e doutorando em história e professor do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Segundo o professor, para compreender a Primeira Guerra Mundial é fundamental fazer uma breve análise do período que a antecedeu. Em 1815, com o Congresso de Viena, havia o entendimento de que os distúrbios ocasionados na Europa com as conquistas napoleônicas nunca mais iriam acontecer. O que ficou conhecido por "Conserto da Europa" fez com que durante os 100 anos seguintes o velho continente vivesse uma "paz relativa".
Costa comenta que outra questão importante diz respeito aos efeitos que a Revolução Industrial provocou na segunda metade do século 19. O mundo já havia sido dividido pelas grandes potências da época --Grã-Bretanha e França-- e, o surgimento de uma outra potência na Europa, a Alemanha, gerava grandes dúvidas acerca de como ela poderia expandir sua produção industrial.
"De fato, não havia mais espaço físico para a Alemanha expandir-se pela Europa e os continentes asiático e africano já haviam sido divididos entre Grã-Bretanha e França, restando poucas opções. Diante desse cenário, é importante salientar que no início do século 20 já havia um sentimento comum na Europa de que a paz não perduraria. Os países já tinham entrado numa corrida armamentista e aguardavam que algum fato os levasse ao enfrentamento", explica.
Para Costa, uma das questões que também teria ocasionado a guerra seria a política de alianças entre os países, o que o presidente estadunidense Woodrow Wilson teria classificado como diplomacia secreta.
"Isso porque, assim que o Império Austro-Húngaro exigiu que os criminosos envolvidos na morte do arquiduque fossem penalizados, a Sérvia, que contava com o apoio da Rússia, sentiu-se fortalecida para não aceitar completamente as exigências", relata o professor.
Ele diz que o Império Austro-Húngaro só agiu contra a Sérvia com tanta veemência porque contava com o aval da Alemanha. Diante do impasse na Sérvia, o Império declarou guerra a ela.
"Tínhamos, nitidamente, o estabelecimento de dois blocos: Alemanha, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano de um lado e, do outro, Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália e Estados Unidos."
O conflito transcorre com baixas de ambos os lados até que, em 1917, a Rússia faz um acordo com a Alemanha e deixa a guerra. O que poderia significar uma vantagem para os alemães, logo teve a perspectiva revertida com a entrada dos Estados Unidos no confronto.
Costa relata que gradualmente os países aliados da Alemanha começam a sofrer derrotas consecutivas. Resta apenas aos alemães assinar sua rendição em 11 de novembro de 1918.
"Enfim, com a vitória dos Aliados, o Tratado de Versalhes, que poderia ser um libelo para a paz mundial, acabou se caracterizando como um meio para punir a Alemanha. Evidentemente que suas conseqüências logo seriam vistas na Segunda Guerra Mundial", conclui o professor.





Ou acesse o link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/podcasts/ult10065u466529.shtml

OBAMA MANTERÁ OCULTA DECISÕES ESPECÍFICAS SOBRE A CRISE ATÉ TOMAR POSSE

Rádio Eldorado AM, 07 de novembro de 2008.

O professor de pós-graduação da Fundação de Sociologia e Política de São Paulo Renatho Costa conversou com Sandra Cabral





Ou ouça o áudio através do link: http://www.territorioeldorado.limao.com.br

SETE ANOS DO 'ONZE DE SETEMBRO'


Rádio Cultura AM, 11 de setembro de 2008.
Entrevista concedida à jornalista Tatiana Ferraz.

Tatiana Ferraz: Os resultados de uma intensa investigação determinaram que a Al-Qaeda e Osama Bin Laden tinham responsabilidade nos atentados. A declaração de 'guerra santa' contra os Estados Unidos, e a intenção explícita de Bin Laden de matar civis norte-americanos são evidencia da motivação de fundamentalistas islâmicos para cometer esses atos.

domingo, 14 de setembro de 2008

RESENHA "SEM CONCESSÕES AO LEITOR"

Revista Perspectivas em Educação - ano 1 - nº 03 - ISSN 1983-6813

Renatho Costa*

GRECO, Felipe. Memórias do Asfalto. São Paulo: Editora Desatino, 2007.

Memórias do Asfalto é o terceiro livro de Felipe Greco, seu segundo romance. Em seu primeiro livro de contos intitulado Caçadores Noturno, Felipe enveredava pela noite paulistana para decifrá-la, ou melhor, radiografá-la através de seus personagens que dificilmente encontrariam espaço para viver sob a luz do dia. Outsiders!
O Coveiro foi seu primeiro romance. Nele somos convidados a acompanhar a trajetória de Ramiro. Novamente o cenário dessa epopéia marginal – se é que podemos utilizar uma classificação como essa sem restringir a grandeza do romance – se passa nas noites paulistanas, em regiões da cidade onde a população prefere não olhar (Praça da República, cracolândia, etc.), ainda mais ajudada pela pouca iluminação desses locais.
Em 2007, Felipe Greco lançou Memórias do Asfalto. O romance já havia sido agraciado pela premiação de melhor obra juvenil concedida pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (PAC 26). Um prêmio que atraiu a atenção de um público – o jovem, o adolescente – pouco acostumado com a temática de Felipe.
Nessa obra, Felipe Greco não abandona suas referências paulistanas, ou seja, acompanhar a trama de Xexéu – o garoto protagonista desse romance – é fazer um tour pelas partes da cidade que a população preferiria esquecer. Praça da Sé, Centro Velho, Febem, dentre outros lugares, ambientam a trajetória do menino.
Xexéu não é um menino diferente dos demais que vivem na periferia de São Paulo, ou de qualquer grande cidade brasileira. Nesse sentido, a ambientação regional do romance em nada prejudica no desenvolvimento da trama, contudo, àqueles que conhecem a cidade têm a impressão de estarem vivendo a ação no momento em que é narrada, tal a maestria narrativa de Felipe.
Esse menino negro, pobre, criado pela mãe e avó, com um irmão mais novo, reflete com fidelidade ímpar a realidade brasileira. Nela se constata a mudança do paradigma social, ou seja, a mulher assumindo a responsabilidade por manter a família e a casa. Essa é a obrigação da mãe de Xexéu.
Mas como nada na vida do protagonista do romance é perene, a pequena estabilidade dessa estrutura familiar logo é rompida com a morte da mãe e retorno da avó para o nordeste – levando o irmão mais novo. Xexéu vai morar com o tio, mas também não fica por ali por muito tempo.
Nesse momento da história, Felipe desloca a narrativa dos conflitos familiares para expor uma realidade extremamente dura, qual seja, a vida dos meninos que moram nas ruas. E ali é salientada uma característica que muitas vezes não chega à população: os meninos e meninas que vivem pelas ruas não são livres, o espaço público é loteado pelos mais fortes:
As calçadas são territórios livres para aqueles que não precisam viver ao relento. Já para os desabrigados, elas se transformam em propriedade particular. É preciso pagar aluguel pela vaga na marquise, para tirar o encardido no chafariz da praça, pedágio pra bater umas carteiras no calçadão, dar propina pra alguns tiras pilantras não levarem o menor infrator para o reformatório; enfim, nada é de graça. (p. 31)
A passagem de Xexéu pelas ruas faz com que ele vá parar na antiga FEBEM – hoje Fundação Casa – e, nesse momento, o que poderia fazer com que a trama fosse transformada num Pixote**, muda completamente de figura porque surge a possibilidade de redenção desse menino, uma maneira para que ele deixe a vida de marginal e exponha seus dotes. Xexéu descobre-se um artista dotado de grande talento para desenhar.
No entanto, Felipe Greco não permite que seu romance seja mais um conto de fadas. Aqui ele quebra qualquer expectativa romântica de narrar uma história de sucesso, para catapultar o personagem a uma situação mais complexa ainda. Xexéu, vítima de uma armação político-eleitoreira, acaba se transformando num líder de rebelião. Como resultado, foge da FEBEM, mas fica sem ter para onde ir. Até porque, com muita “realidade”, Felipe expõe a dramática situação do jovem que não tem referências.
Sem ter para onde ir, resolve buscar uma última possibilidade de ajuda, Lurdinha. Grande paixão da infância, ainda quando vivia com sua mãe, Lurdinha era o que Xexéu sempre idealizou para ser sua namorada, esposa... mulher da sua vida!
Lurdinha se vê surpresa ao encontrar Xexéu à sua porta, auxilia o amigo e conta as notícias: se casara, mas o marido morreu. Agora estaria numa encruzilhada da vida. O que se configurava numa tragédia para Lurdinha, surgia como um lampejo de esperança para Xexéu. Com seu amor de infância Xexéu tem sua primeira experiência sexual, mas, novamente, Felipe não aponta para um happy end.
Na manhã seguinte à realização do mais secreto dos sonhos de Xexéu, Lurdinha volta para a casa de sua mãe no intuito de ser aceita novamente e poder retomar seus estudos. Xexéu tem de voltar para a rua, mas antes pega algumas roupas do ex-marido de Lurdinha e sente-se como “uma pessoa importante”.
A crítica social de Felipe Greco é de uma objetividade extremada e isso fica ainda mais evidente quando Xexéu expõe sua percepção de uma viagem de metrô trajando as roupas do ex-marido de Lurdinha:
Eu já havia andado de metrô, mas essa era a primeira vez que pagava a passagem e que ninguém me olhava feio ou tentava me expulsar do trem. Percebi então que a boa aparência e a grana no bolso eram o passaporte para esse lado da realidade que eu ainda desconhecia. (p. 65)
Outra vez, a sensação de Xexéu, isolado na cidade, é reforçada. Procurado pela polícia como um criminoso, torna-se um andarilho. O contraste entre o gigantismo da cidade e o aprisionamento, como se estivesse numa gaiola – haja vista o menino ter se tornado vítima de uma injustiça, e não pode sair dali – é explicitado ainda mais.
No desenvolvimento da trama de Memórias do Asfalto, Felipe Greco ainda traz mais uma possibilidade de redenção para Xexéu. Durante uma fuga, após brigar com alguns meninos de rua num bar, Xexéu vai parar na Pinacoteca de São Paulo. Que outro lugar poderia ir esse personagem que, segundo o autor nos apresenta, trata-se de um artista nato.
A sensação de êxtase de Xexéu diante da beleza das obras e da ostentação do edifício impressiona, mas é num acidente com um cadeirante, no banheiro da Pinacoteca, que sua vida, novamente, apresenta a oportunidade de mudança.
Um cadeirante entra rapidamente no banheiro, arremessa Xexéu ao chão – fazendo com que ele se machuque e seu nariz sangre. Em seguida entra um homem atrás do cadeirante e presta auxílio a Xexéu. O cadeirante diz para esse homem, Chicão, dar algum dinheiro para que o rapaz vá embora e não crie confusão.
Depois desse primeiro encontro, Xexéu vai caminhar pela Pinacoteca e posta-se diante de um grande quadro. Em seguida ouve uma pessoa perguntar sua opinião acerca dele. É o cadeirante.
A relação de Xexéu com esse cadeirante – Manolo Cardia – torna-se ainda mais complexa quando ele fica sabendo que o autor da obra que observava era o próprio. Com esse relacionamento Felipe Greco apresenta as múltiplas formas de trocas entre pessoas de realidades completamente distintas, mas ligadas pelo talento – nesse caso, a pintura.
A ingenuidade e bom-humor de Xexéu conquistam Manolo fazendo com que o menino aceite refugiar-se em sua casa enquanto resolve sua situação com a Justiça. Manolo fora o artista revelação que não conseguiu viver com o sucesso e tornou-se arrogante e insuportável, mas que buscava a redenção.
Manolo, já em sua casa, avalia sua vida a partir da perspectiva das possibilidades de Xexéu, e lhe diz:
- Mas nesta manhã, quando eu quase quebrei o seu nariz naquele banheiro, foi como se um anjo surgisse de repente para me mostrar que, mais uma vez, eu estava fazendo a pior escolha. Depois, você, com essa sua admirável teimosia em continuar sorrindo, apesar de tudo que já lhe fizeram sofrer, veio e foi passando como um rolo compressor por cima do meu egoísmo. Muito obrigado, meu amigo, por me curar da minha cegueira! Sua alegria me salvou! (p. 98-9)
Como a trama de Felipe Greco é uma autêntica montanha russa, novamente o leitor é levado a vislumbrar que a redenção do pintor Manolo possa ser o caminho que levará Xexéu à tranqüilidade. Mero engano.
Revelar o final dessa obra, completamente envolvente, não acrescentaria muito à sua análise, assim, o primordial é constatar que o que atrai jovens e adultos à trama é a habilidade de Felipe Greco em mesclar a dura realidade de um “menino de rua” com o dinamismo de sua linguagem literária. Também, utilizar a narrativa em primeira pessoa cria maior cumplicidade com o leitor, fazendo com que as angústias, alegrias e esperanças sejam compartilhadas.
Dessa forma, num romance de pouco mais de cem páginas, temas de extrema importância, tais como relação familiar, exploração de menores, uso e tráfico de drogas, além de componentes políticos, são expostos para que sejam pensados nos intervalos para respirar.
Memórias do Asfalto é o tipo de romance que não se acaba com o virar da última página, até porque, a reflexão proposta pela trama transcende a si.

*Doutorando e mestre em História Social (FFLCH-USP), graduado em Relações Internacionais e Professor de Políticas Públicas para a Educação e Pesquisa Educacional na FMC.
**“Pixote – A Lei do mais Fraco” (1981), premiado filme de Hector Babenco que narra a trajetória de uma criança pela FEBEM. Esse filme possibilitou a seu protagonista, Fernando Ramos da Silva, se transformar numa celebridade nacional, contudo, na seqüência, não conseguiu desenvolver a carreira de ator e acabou morrendo em condições bastante depreciativas.

Confira o artigo em versão PDF acessando ao site: http://www.fmccaieiras.com.br/revista3/resenhas.html

ODISSÉIA INACABADA

Revista Discutindo Filosofia, nº 14, 2008 - ISBN 1808-8961

Renatho Costa

Apesar de seu ativismo humanista, a favor da desmitificação das diferenças entre o Ocidente e Oriente, o palestino Edward Said nunca retornou a sua natal Jerusalém.

No final de sua vida - em 25 de setembro de 2003 -, Edward W. Said escrevia de forma complusiva para tentar transmitir o legado de sua proposta humanista às futuras gerações. Talvez essa intenção não se manifestasse tão explicitamente quanto as suas mensagens políticas impressas nos periódicos. Talvez Said, diante da evidência da limitação do uso da linguagem num mundo que tão pouco a privilegia - ou não a entende como deveria, como ele próprio afirmava -, apenas escrevesse porque não acreditava no uso da força.

(confira o conteúdo completo do artigo na revista que encontra-se à venda, nas bancas)

quarta-feira, 19 de março de 2008

SEMINÁRIO ORIENTE MÉDIO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

No último dia 15 de março de 2008, no Hotel Mercure, em São Paulo, aconteceu um seminário que visava discutir alguns temas de extrema relevância para as Relações Internacionais contemporâneas, focava, assim, a problemática do Oriente Médio.
Tive o prazer de participar desse evento ao lado dos professores Samuel Feldberg, Peter Demant e Marcos Toyansk.
Espero que tenhamos conseguido contribuir para o esclarecimento dessas questões, ou dado mais um passo no sentido de aprofundarmos na discussão.
Devo salientar, também, a qualidade do evento organizado pelo site especializado em Relações Internacionais, Cenário Internacional.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ENTREVISTA À RÁDIO ELDORADO AM

PROGRAMA "ESPAÇO INFORMAL"

Quinta-feira, 07 de fevereiro de 2007

Entrevista concedida à jornalista Filomena Salemme, apresentadora do programa Espaço Informal.

Filomena Salemme: Três horas, trinta minutos. No Espaço Informal vamos falar agora sobre o Afeganistão. Sobre a situação do Afeganistão, já que os países que compõem a OTAN ameaçam rachar, porque não estão dispostos a enviar mais soldados para o Afeganistão.
Sobre toda essa polêmica nós vamos conversar agora com o professor de Pós-graduação em Política e Relações Internacionais, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e também especialista em Estudos do Terrorismo, Renatho Costa.
Professor, tudo bom?

Renatho Costa: Tudo bom Filomena? Boa tarde, boa tarde aos seus ouvintes também.

Filomena Salemme: Boa tarde. Professor, em um alerta feito pela OTAN, ela diz que... a Organização diz que um fracasso no Afeganistão, nessa missão do Afeganistão, pode levar, até, a novos ataques terroristas em países ocidentais. Antes de chegar a essa polêmica eu queria que o senhor fizesse, pra nós, uma análise: qual a situação do Afeganistão hoje?

Renatho Costa: Bom, a grande preocupação, hoje, com o Afeganistão é que os objetivos que primeiramente a Aliança Atlântica tinha previsto – que era pacificar o país e depois, a partir daí, reconstituí-lo –, eles não conseguiram alcançar até o momento. E esses conflitos seguem desde 2006. O fato que prevalece é que a OTAN, os 26 países, todos eles enviaram tropas e concordam com a missão. No entanto, acho que o desgaste desse tempo e talvez porque eles não esperassem que os insurgentes, e mesmo o Talibã, fosse agüentar por tanto tempo os ataques da Aliança fez com que houvesse o enfraquecimento do projeto de pacificar o Afeganistão. Então, hoje, nós temos alguns enclaves em algumas regiões, principalmente no sul do Afeganistão, que está totalmente dominado pelo Talibã. E essa região, particularmente, que é onde gera os maiores problemas. Porque os países que participam dessa Aliança Atlântica não querem enviar as suas tropas para combater naquele local específico. E os que estão lá, não querem continuar.

Ouça a entrevista completa através do áudio, clicando abaixo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

ONDE COMEÇA O LÍBANO? A morte de Imad Mughnieh revive a “Operação Paz para a Galiléia”


Entrevista publicada em CENÁRIO INTERNACIONAL em 18/02/2008 - ISSN 1981-9102. Disponível no site: http://www.cenariointernacional.com.br/default3.asp?s=artigos2.asp&id=69

Renatho Costa*

Dia 12 de fevereiro o Líbano presenciou mais um capítulo de sua infindável, e sangrenta, trajetória de “estado-nação”. Com o assassinato de Imad Mughnieh – um dos líderes do Hezbollah que era procurado pelos serviços de inteligência estadunidense e de Israel, devido às inúmeras ações terroristas[1] atribuídas a ele –, o que, aos olhos dos detratores da ação poderia significar o fim de uma era de terror, reacendeu uma crise que se estende desde 2006, ocasião em que Israel invadiu o Líbano.
Evidentemente que a autoria pelo assassinato do líder do Hezbollah não foi assumida pelo governo de Israel, tampouco pelos Estados Unidos, no entanto, ambos deram a entender que, com a morte do terrorista, o ciclo de terror reduziria, pois a organização xiita libanesa ficaria acuada. Outra razão para que nenhum desses estados assuma a autoria pelo assassinato diz respeito, diretamente, ao fato de que ambos são os grandes porta-vozes da “guerra contra o terror”[2] e, a utilização do mesmo método de seus inimigos para alcançar seus resultados enfraqueceria a proposta. No entanto, a Doutrina Bush não deixa dúvidas acerca dos meios que os Estados Unidos usarão para proteger o mundo da ameaça do terrorismo:

A América irá ajudar as nações que precisarem de nossa assistência no combate ao terror. E a América irá responsabilizar as nações que estejam comprometidas com o terror, inclusive aquelas que abrigam terroristas – porque os aliados do terror são inimigos da civilização [nessa ocasião presidente Bush tentava legitimar a invasão ao Afeganistão, no entanto, esse mesmo argumento sempre foi utilizado para pressionar a Síria]. Os Estados Unidos e os países que estão cooperando conosco não devem permitir que os terroristas criem novas bases. Juntos, iremos procurar negar-lhes refúgio, a cada ocasião. (...) Nossa prioridade será, primeiramente, a de demonstrar e destruir as organizações terroristas de alcance global e atacar suas lideranças, seu comando, seu controle e suas comunicações, seu apoio material e suas finanças. Isso terá um efeito desorganizador sobre a capacidade de terroristas de planejar e operar. (Bush, 2002/2003, p. 79/85)[3] (grifos meus)

Se, por um lado, os idealizadores do atentando em Damasco, contra Mughnieh, quiseram demonstrar aos seus adversários que não há lugar onde estarão seguros, nem mesmo sob a guarda dos aliados sírios, por outro lado, a morte do líder do Hezbollah repercutiu diretamente na situação política libanesa e a inflamou.
O Líbano, após a invasão israelense de 2006, viu-se, mais uma vez, diante do maior problema – ainda não resolvido – de sua história, qual seja, a melhor maneira para representar a sua população no cenário político interno.
A fórmula utilizada na ocasião da criação do estado, em 1943[4], demonstrou-se tão frágil que levou o país a duas guerras civis (1958 e 1975-90). A solução encontrada para por fim à Segunda Guerra Civil, que se deu com a assinatura do Acordo de Taif, em 1990, apenas conseguiu dirimir o problema da representatividade, no entanto, àquela ocasião a população muçulmana já era maior que a cristã e a sub-representatividade política não foi sanada.
E, se em 2000, quando o Hezbollah conseguiu expulsar as tropas israelenses do sul do Líbano, essa vitória repercutiu diretamente na situação política libanesa e fez com que o partido político ampliasse o seu status. Em 2006, ao resistir aos ataques israelenses – mesmo com praticamente toda a infraestrutura do país sendo destruída – e configurar-se como a verdadeira Resistência libanesa, o momento de “cobrar” por seus feitos chegou. Nasrallah, secretário-geral do partido, expunha que as bases gerais para uma futura negociação perpassariam pelo fortalecimento do poder do Hezbollah dentro do cenário político libanês.

O Outono de 2006 foi marcado pela escalada de tensão e cobranças. Em 31 de Outubro, a proposta de Nasrallah para a criação de um governo de unidade nacional transformou-se num flagrante ultimato: o governo deve concordar com o novo arranjo, com o Hezbollah com poder de veto sobre todas as medidas do governo, ou encarar as muito difundidas demonstrações e outras formas de pressão organizada, tal como o bloqueio da rota para o aeroporto internacional. (Norton, 2007, p.155-6)

Assim, o Hezbollah passou a ambicionar e cobrar com mais veemência uma reforma na estrutura política libanesa que visasse ampliar a participação do partido xiita; no entanto, por mais que grande parte da população – muçulmanos e cristãos – tivesse entendido que a participação do Hezbollah teria sido honrosa e dignificante para o Estado (2006), abrir mão de regalias não era algo facilmente assimilável.
As discussões levaram à retirada dos membros do Hezbollah do Gabinete e ao início de uma crise política que não consegue alcançar um fim satisfatório. Com o agravamento da situação, no final de 2007 o presidente Emile Lahoud deixou o governo e o país não conseguiu eleger seu substituto. Quatorze datas foram marcadas para a nova eleição presidencial, mas todas eles foram adiadas.
Com o assassinato de Imad Mughnieh, os dois grandes blocos políticos que se opõem no Líbano encontraram-se para celebrar momentos distintos de sua história. Dia 14 de fevereiro, o grupo que faz oposição à Síria se reuniu nas proximidades da Praça dos Mártires, em Beirute, para celebrar os três anos da morte de Rafik Hariri. Ao sul da capital, o Hezbollah reunia outra multidão para a cerimônia fúnebre de mais um de seus mártires.
Rafik Hariri, com sua morte, foi o viabilizador da “Revolução do Cedro”, a qual trouxe ao Líbano uma possibilidade de união. Durante as manifestações em praça pública, em 2005, a favor ou contra a presença militar síria no Líbano, o que se viu foi uma população empunhando a bandeira do Líbano, não apenas a de seu grupo religioso. Nascia ali o sentimento de estado-nação para aquele povo?
A possibilidade de nascimento de um novo Líbano era mesmo difícil de acreditar. Até porque, depois do fratricídio que acometeu o país por anos de guerra civil, presenciar os vários grupos religiosos empunharem uma mesma bandeira – no intuito de buscar uma identificação com a nação –, era algo que muitos analistas não esperavam ser possível. E, nesse sentido, a morte de Hariri foi extremamente emblemática, por mais que tenha advindo de um atentando terrorista que explodiu o seu carro e vitimou muitas outras pessoas.
Chegamos a Fevereiro de 2007 e a promessa de um Líbano unido torna-se cada vez mais utópica. As divergências entre os grupos religiosos e a inadmissibilidade de ceder parcela do poder para um grupo rival acaba sendo o maior obstáculo a ser ultrapassado. E, quanto mais a situação política libanesa se desestabiliza, mais os grupos religiosos tendem a buscar abrigo junto aos seus pares.
Thomas Friedman, jornalista norte-americano, que fez a cobertura da Segunda Guerra Civil libanesa conseguiu descrever esse sentimento do povo libanês diante da insegurança do Estado:

O indivíduo libanês deriva tradicionalmente sua identidade social e apoio psicológico de suas filiações primordiais: família, bairro, ou comunidade religiosa; dificilmente da nação como um todo. Sempre fora druso, maronita ou sunita antes de se considerar libanês; e sempre membro dos clãs dos Arslan ou Jumblat, antes de ser druso; ou parte dos clãs maronitas Gemayel ou Franjieh, antes de ser maronita. A guerra civil e a invasão israelense só fizeram reforçar essa tendência, dividindo os libaneses em microfamílias, ou comunidades de aldeias ou religiosas muito mais unidas, ainda que os afastasse mais uns dos outros enquanto nação. (1991, p. 56)

Se o Líbano já vivia uma forte tensão política com a dificuldade de escolher um nome conciliador para governar o país e encontrar uma fórmula para estabelecer a divisão do poder dentro do Gabinete, a morte de Mughnieh talvez possa vir a representar o mesmo que a “Operação Paz para a Galiléia” significou em 1982.
A criação da “Zona de Segurança” em território libanês – resultado da invasão israelense de 1982 – abriu uma nova frente de batalha dentro da guerra civil libanesa e fez com que o surgimento do Hezbollah fosse acelerado. Agora, quando a instabilidade política libanesa parecia ser a grande batalha do Hezbollah, a morte de seu líder revitaliza essa frente de batalha.
Nasrallah, em seu discurso durante a cerimônia fúnebre de Imad Mughnieh, deixou bem claro que sua organização não recuará diante do crime e que a guerra contra o Estado de Israel extrapolará as fronteiras do Líbano:

“Vocês cruzaram as fronteiras," [em referência à morte de Mughnieh ter sido na Síria] disse ele [Nasrallah] num discurso que estava especialmente veemente, mesmo para o padrão belicoso de Nasrallah. "Sionistas, se vocês querem esse tipo de guerra aberta, então deixe estar, e deixe que o mundo inteiro ouça: Nós, como qualquer outro povo, temos o sagrado direito de nos defender, e qualquer coisa que precisarmos fazer para nos defender, nós faremos." (Shadid, The Washington Post, 14/02/2008) (grifos meus)

Assim terminou mais um capítulo da incerta história do estado libanês: com sua população dividida e celebrando seus mortos. Hariri e Mughnieh talvez tenham seguido trajetórias distintas em suas vidas, no entanto, além de terem sido vitimados pelo mesmo tipo de atentado, foram além: em 14 de fevereiro fizeram o Líbano parar e lançaram mais uma dúvida sobre o futuro do país: Onde começa o Líbano?
Porque essa é a única pergunta que precisa ser respondida nesse momento. Se os clãs religiosos conseguirem reascender o sentimento que brotou na “Revolução do Cedro”, pode ser que ainda seja possível evitar uma Terceira Guerra Civil, no entanto, é necessário, também, que os demais atores que transitam pelo sistema internacional deixem de querer resolver suas pendência em campo libanês.
O Líbano serviu como campo de batalha para resolver os problemas de muitos países durante a Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética, direta e indiretamente, usaram seus canais de influência para dificultar a estabilidade política libanesa. Na seqüência, a dificuldade de resolver a “Questão Palestina” em seu território deslocou o conflito para o Líbano. A OLP (Organização para a Libertação da Palestina, na época, liderada por Yasser Arafat) deslocou-se para o Líbano e trouxe consigo Israel.
A morte de Imad Mughnieh, de fato, traz tranqüilidade para as vítimas das ações atribuídas a ele ou, novamente – considerando a invasão israelense de 2006 como um fiasco –, se traduz em mais um erro estratégico e coloca a população judaica de todo o mundo sob a mira da revanche do Hezbollah?
Esperemos os próximos lances dessa partida porque o final, quando se trata do Líbano, é sempre uma incógnita!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bush, George W. “A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América” in: Política Externa, São Paulo: Ed. Paz e Terra, Gacint/USP, IEEI, vol. 11, nº 03, dez/jan/fev, 2002/2003, p. 78-113.
Friedman, Thomas. De Beirute a Jerusalém. São Paulo: Bertrand, 3ª edição, 1991.
Norton, Augustus Richard. Hezbollah. Princeton: Princeton University Press, 2007.
Shadid, Anthony. “Hezbollah Chief Threatens Attacks Against Israel - Group Blames Israel for Top Commander's Death” in: The Washington Post, edição de 14/02/2008. Disponível em: www.washingtonpost.com.

Notas:
*Doutorando em História Social pela FFLCH-USP, Mestre em História Social, também pela FFLCH-USP e Bacharel em Relações Internacional pela FASM-SP. Especialista em Terrorismo e Estudos do Oriente Médio. Professor do curso de Pós-Graduação em Relações Internacionais da FESPSP.
[1] Em 1982, durante a Segunda Guerra Civil libanesa (1975-90) as tropas estadunidenses foram enviadas ao país para auxiliar na retirada da OLP do território e lá permaneceram até o ano seguinte, ocasião em que entraram em atrito com milicianos muçulmanos (em apoio aos maronitas) e passaram a ser considerados apoiadores de Israel. Como represália, Mughnieh teria programado um atentado à bomba contra o quartel dos marines, o qual vitimou 241 militares. Também, em 1992, numa suposta represália ao assassinato do líder do Hezbollah na ocasião, Musawi, pelo serviço de inteligência israelense, Mughnieh teria organizado um atentado à embaixada israelense em Buenos Aires e, na seqüencia, em 1994, à AMIA, associação beneficente de judeus.
[2] Idealizada pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, no momento subseqüente aos ataques às Torres Gêmeas em Nova York e ao Pentágono, em Washington (2001), e conhecida por “Doutrina Bush”.
[3] Esse fragmento de texto faz parte do documento intitulado “A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América”, que ficou mais conhecido como Doutrina Bush. Ele foi redigido em 17/09/2002 e enviado ao Congresso dos EUA em 20/09/2002.
[4] A presidência seria destinada ao grupo religioso com maior população (maronita); o cargo de primeiro-ministro caberia a um muçulmano (sunita) e, posteriormente, o cargo de chefe do parlamento acabou sendo destinado a um muçulmano xiita. A representação no parlamento se daria na proporção de 6 para 5 em favor dos cristão.