sábado, 15 de outubro de 2011

ISRAEL E HAMAS FAZEM ACORDO PARA LIBERTAÇÃO DE PRISIONEIROS


Sábado, 15 de outubro de 2011.

O Programa Fato em Foco, apresentado pelo jornalista Roberto Nonato, recebe o Professor de Relações INternacionais da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), RENATHO COSTA, e o Coordenador do Curso de Relações Internacionais da FMU, MANUEL NABAIS DA FURRIELA, para debaterem sobre a recente troca de prisioneiros entre o Estado de Israel e o Hamas. Também, sobre a situação política da Síria.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

NÚMERO DE MORTOS EM REPRESSÃO A PROTESTOS NA SÍRIA CHEGA A 2.900

Rádio CBN
Programa Jornal da CBN Segunda Edição
Quinta-feira, 06 de outubro de 2011

Apresentação Roberto Nonato
Entrevista com Renatho Costa,
professor de Relações Internacionais da
Unipampa (Universidade Federal do Pampa)












Ou pelo link: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn-2-edicao/2011/10/06/NUMERO-DE-MORTOS-EM-REPRESSAO-A-PROTESTOS-NA-SIRIA-CHEGA-A-2900.htm

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ENTREVISTA - REVISTA CULTURA ISLÂMICA



1 - Apresente-se, por favor:
Meu nome é Renatho Costa, nasci em São Paulo, capital. Logo que terminei o Ensino Médio iniciei o curso superior de Cinema, mas acabei não levando adiante. Contudo, como sempre gostei muito de escrever, passei a escrever peças teatrais. Paralelamente a isso, iniciei o curso superior de Relações Internacionais. Foi durante a graduação que comecei a me interessar pelo Oriente Médio e percebi que tínhamos poucos especialistas nessa área, no Brasil. Assim, iniciei meus estudos e percebi que para entender melhor as questões políticas que envolviam o Oriente Médio teria de conhecer os muçulmanos, sua história e o Islã. Dessa maneira, esse tema tornou-se objeto de minha monografia e, na sequência, iniciei o mestrado em História Social (USP) no intuito de entender melhor o sistema político libanês e as influências do partido político Hezbollah. Quando terminei o mestrado percebi que havia muitas dúvidas sobre o Islã e que esse tema poderia ser estudado no doutorado. Foi assim que surgiu a possibilidade de fazer um projeto para estudar o modelo do wilayat al-faqih. Assim, para entender melhor esse modelo, tive de voltar-me para o estudo das origens do xiismo e da própria concepção de liderança.

Mesquita de Jamkaran, Qom, Irã.

2 - Qual a sua profissão?
Sou professor. Enquanto estava cursando o mestrado ministrava palestras sobre a temática que envolve o Oriente Médio, após ter iniciado o doutorado fui convidado a ministrar uma disciplina no curso de Pós-Graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), uma das mais tradicionais e antigas faculdades de São Paulo. Paralelamente a isso também trabalhei em outras faculdades em São Paulo e região. A partir de 2010 passei no concurso público para Professor Assistente na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), para trabalhar no curso de Relações Internacionais. E é onde trabalho hoje, no campus localizado na cidade de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul.

3 - Que pontos interessantes o senhor, como cristão, viu na religião islâmica?
Entendo que tanto a religião islâmica como a cristã possuem concepções semelhantes acerca do respeito à vida, da preservação da sociedade, do respeito ao próximo, etc. Enfim, o Islã, em sua concepção mais pura e verdadeira não se afasta em nada dos princípios que vivi e vivo no Brasil. Talvez a maior diferença entre os cristãos e os muçulmanos seja que, muitas vezes, os seguidores do Islã vivenciam com mais efervescência sua religiosidade, ou seja, parece-me que para os muçulmanos a religião está integrada ao dia-a-dia, o que para os cristãos, pelo menos a grande maioria, não ocorre. Todos os dias, com a necessidade de fazer as orações, os muçulmanos buscam a reflexão acerca de sua relação com o divino. Para os católicos, principalmente, esse processo é um tanto diferenciado. Não quero fazer nenhum juízo de valor, até porque entendo que as pessoas devem buscar nas religiões as respostas para suas angústias pessoais, mas ressaltaria essa dedicação tão intensa do muçulmano à sua religião como um aspecto que me chama atenção.

4 - O que levou o senhor a se interessar em estudar esta região, exatamente onde a religião islâmica predomina?
Como disse anteriormente, ao optar por aprofundar meus estudos acerca do xiismo, e mais efetivamente, acerca do wilayat al-faqih, tinha certeza de que o melhor local para entender essa concepção de liderança seria voltar meu foco para onde foi implantado e é estudado com mais profundidade. Inicialmente, enquanto fazia o estudo bibliográfico acerca do xiismo, cheguei a trabalhar em um projeto para estudar as escolas de Najaf e Qom de maneira comparativa, mas percebi que a importância de Qom tornou-se inquestionável após a Revolução Islâmica e isso fez com que eu optasse por focar minha pesquisa no Irã. Como a intenção era entender a estrutura do wilayat al-faqih e seu desdobramento político para o restante da população islâmica xiita do mundo, entendi que precisaria entrevistar as principais lideranças religiosas atuais para ouvir suas impressões e sanar algumas dúvidas que surgiram em meu estudo bibliográfico. Assim, para chegar a esse momento de fazer as entrevistas com aiatolás iranianos, tive de estudar a história da Pérsia, de sua islamização e, finalmente, da Revolução Islâmica, no final do século 20. Posso dizer que, para contemplar esses objetivos acadêmicos, o Irã apresentou-se como uma escolha natural. E, dessa maneira, ter a possibilidade de entender um pouco mais sobre a religião xiita e o povo iraniano, que a abraçou com tanto afinco, tornou-se um grande prazer... e uma obrigação.

5 - Quais dúvidas mais frequentes feitas por seus alunos com relação ao islã ou sobre as regiões onde ele predomina?
Primeiramente é importante salientar que o Islã não é uma religião predominante no Brasil, existem, relativamente, bem poucos seguidores dessa religião e eles estão concentrados em algumas regiões do país. Assim, as pessoas, de modo geral, não estão acostumadas a conviverem com muçulmanos. Temos poucas mesquitas no país e, escolas islâmicas, ainda menos. Por conseguinte, o primeiro problema que surge diz respeito ao fato de que a grande maioria da população, e mesmo os alunos, têm dificuldade para entender a diferença entre árabes, persas e turcos. Não obstante a questão étnica, as pessoas ainda têm muita dificuldade pra entender a diferença entre xiitas e sunitas. O Islã, de modo geral, é algo estranho (justamente por não ser entendido)!
A maior dificuldade, agora referindo-me mais diretamente ao estudo do Islã e da região do Oriente Médio, por parte dos alunos, ressaltaria que é a pouca informação que eles tiveram nas etapas iniciais da educação formal. Assim, as dúvidas ocorrem desde a razão pela qual os muçulmanos têm de fazer as orações, até o significado do Ramadã. Além de questionamentos sobre o “casamento provisório”, muitas vezes visto como uma excentricidade para os padrões ocidentais. Evidentemente que, no que tange à região do Oriente Médio, as questões relacionadas aos atritos entre palestinos e israelenses ganham grande destaque. A grande maioria não entende a razão dos atritos e o porquê de não haver uma ação internacional efetiva de forças externas para cessar a “guerra em curso”. Mas é importante registrar que gradualmente o Oriente Médio vai se tornando objeto de atenção e mais estudos por parte dos acadêmicos brasileiros, assim, é provável que esses temas logo serão absorvidos pelas pessoas e o Islã se torne mais acessível a todos.

6 - Porque a religião islâmica seria tão visada atualmente?
Existem duas possibilidades de análise para essa questão, quais sejam, primeiramente porque alguns atores (países) no ocidente percebem as diferenças entre o Islã e o cristianismo como um risco. Assim, seguindo a teoria do cientista político estadunidense, Samuel Huntington, haveria um choque de civilizações em curso e, dessa maneira, os ocidentais teriam de se preparar para esse conflito. Por outro lado, uma segunda possibilidade diz respeito, exatamente, à força que algumas organizações islamistas (fundamentalistas islâmicas) alcançaram na mídia. Essas organizações sempre fizeram questão de frisar que estavam lutando contra o Ocidente “em nome de Deus”, e mais, alegavam que a legitimidade para essa luta estava ligada a ditos corânicos. Assim, de certa maneira, o Islã tornou-se um grande vilão do mundo contemporâneo. Tanto uma como outra dessas visões estão equivocadas, contudo, têm sido difundidas com muita frequência e essa pode ser a razão pela qual os muçulmanos são tão visados nos dias de hoje.

7 - Segundo seus estudos, pode-se ligar a religião islâmica com o terrorismo?
Acredito que qualquer tentativa de ligação entre a religião islâmica e o terrorismo seja um grande equívoco. Qualquer pessoa que tinha acesso ao Corão poderá perceber que os princípios defendidos pelos islâmicos são os mesmos dos cristãos e judeus. Por outro lado, é inegável que algumas organizações terroristas fizeram questão de usar o nome do Islã para legitimar sua luta. E, nesse sentido, entendo que também tenha havido uma aproximação entre os dois conceitos. Também, lideranças religiosas fizeram questão de interpretar fontes islâmicas no sentido de aproximarem a religião do terrorismo, contudo, em meus estudos consigo apontar onde estão essas diferenças. Ainda, algumas organizações se intitulam islâmicas, mas acabam se afastando tanto dos princípios religiosos que possuem maior caráter político que religioso.
Temos, ainda, que ressaltar que o terrorismo não foi inventado pelas organizações islâmicas, esse tipo de ação sempre existiu em outras localidades, talvez o diferencial no caso dos grupos, dito islâmicos, seja a utilização de homens-bomba, mas mesmo em uma guerra irregular a autorização para o uso dessa tática, por partes de lideranças islâmicas variadas, é muito questionável. Dessa maneira, particularmente, em meus estudos, consigo traçar diferenças entre Terrorismo e Islã, mas há muita produção que diverge de minhas conclusões.

8 -  Como foi sua viagem ao Irã?
Primeiramente é importante salientar que ela foi fundamental para aproximar-me, o máximo possível, dos objetivos propostos em minha tese. Quando estudei o Líbano, em meu mestrado, não tive a oportunidade de visitá-lo e entendi que essa foi uma deficiência em minha pesquisa. Agora, por mais que eu tenha lido sobre o Irã, Qom, o xiismo, etc., quando desembarquei em Teerã muitos dos conceitos que tinha anteriormente foram desmontados. Ter a oportunidade de conviver com outros colegas da Al-Mustafa University, com a população iraniana e ainda por cima ter entrevistado algumas autoridades religiosas (aiatolás), deu-me a possibilidade de ver um Irã mais humano. Evidentemente que existem problemas sociais, políticos, econômicos, mas essa é uma questão que pode ser discutida e tive a oportunidade de conversar com todos a esse respeito. Diferentemente do que imaginava, não existem tabus que acerca do que é possível ser discutido, apenas pontos de vista divergentes. O principal nessa viagem foi perceber que as diferenças culturais podem aproximar os povos, mas é necessário que se rompam algumas barreiras para tal.

9 - Que pensamentos o senhor tinha deste país e quais têm agora?
Na verdade, devido ao fato de estar estudando o Irã, e sua história, por aproximadamente cinco anos, ininterruptos, sentia que conhecia bem o país e sua cultura, no entanto, em muitos aspectos eu estava errado. Somente vivenciando o dia a dia do país que é possível compreendê-lo melhor. Somente andando de ônibus, metrô, táxi, etc., que é possível ouvir o povo falar de seus problemas e suas angústias pessoais. Assim, entendo que quando cheguei ao Irã tinha em mente que iria encontrar um país fechado, onde a repressão se assemelhava aos tempos em que o Brasil vivenciou a Ditadura Militar, no entanto, encontrei algo diferente. Existem restrições, é claro. Talvez essas restrições sejam estranhas para algumas pessoas fora da cultura islâmica xiita, mas na vida cotidiana iraniana nem sempre soam como restrições. E esse é o ponto que merece atenção. Costumamos analisar os outros a partir de nossos referenciais e nos esquecemos que existem histórias distintas. Assim, o que posso dizer hoje sobre o Irã é que é um país em constante transformação, mas que pauta essas mudanças em princípios religiosos.  Nesse sentido, segue uma trajetória distinta do Ocidente, mas não é possível afirmar, sem o risco de cometer um grande equívoco, que um modelo seja melhor do que o outro. São diferentes, e, em alguns pontos poderiam ser complementares, mas isso demandaria um processo de aproximação que não me parece tão simples no momento.

Jardins do Palácio em Isfahan, Irã.

10 - Conte-nos de alguns pontos que foram interessantes nesta viagem.
Um aspecto que cabe ser ressaltado é que não há apenas “um Irã dentro do Irã”. Muito comumente a mídia, e mesmo alguns segmentos acadêmicos, tendem a analisar o Irã como um bloco monolítico. Mas durante o período que estive no país pude conhecer faces distintas de um mesmo povo. Estar em Teerã é o mesmo que viver em São Paulo. Inclusive o metrô lotado da estação da Sé é o mesmo. Mas em Teerã temos um vagão somente para mulheres... e as mulheres de Teerã usam mais o hijab que o chador. Sem dúvida Teerã apresenta uma beleza sem igual. A modernidade e a tradição estão muito próximas. E ainda é possível ser brindado com a visão dos belos cumes das montanhas cobertos pela neve. Em contrapartida, Qom é uma cidade que se vive religião. Uma cidade antiga, mas que para que sabe procurar, encontrará aspectos de modernidade como shoppings centers e fast food. Qom é uma cidade “bege”. Uma arquitetura baixa e que quando se vê do alto das montanhas se mistura com a cor do deserto... mas é uma cidade importante para a manutenção da religião xiita. Ali encontram-se ótimos centros religiosos que recebem alunos do mundo inteiro. E o que dizer de isfahan???!!! Uma cidade que qualquer cidadão do mundo se sente em casa. Beleza por todos os cantos e verde, muito verde. Lindos parques, praças... cada mínimo espaço é bem tratado como único. Pessoas muito alegres. Esses são apenas alguns aspectos do Irã que conheci, mas caberiam muitas mais observações. Sobre o misticismo, a fé, a alegria, o “taruf”... Um país que merece livros e mais livros para expor sua diversidade.

11 - Como o senhor pode definir a religião islâmica atualmente depois desta viagem, mudou algum conceito?
Acredito que não tenha havido mudanças conceituais, mas em contrapartida, pude conversar com as pessoas que mantém o xiismo vivo e isso me auxiliou muito. Ler sobre o xiismo por vários anos me deu subsídio para poder sentar-me com alguns aiatolás e ouvir deles se o que tinha lido era, de fato, real ou interpretação equivocada da religião xiita. Mas mesmo as divergências que encontrei nas respostas das pessoas que pude entrevistar, não foram suficientes para que eu afirme que houve mudanças conceituais. A verdade é que agora tenho uma “versão viva do xiismo” para analisar e não apenas uma “versão bibliográfica”. Esse é um aspecto extremamente positivo.

12 - Um fato que marcou em seu pensamento sobre o islã e o Irã?
Ter tido a oportunidade de assistir as orações dentro de um Santuário como o de Fátima Mazuma é uma experiência incrível. Ver como as pessoas expõem sua fé num santuário como esse, posso dizer que foi impressionante. Por isso que a impressão que tenho é de que o muçulmano vivencia sua fé todos os momentos do dia. Agora, no que tange ao Irã, duas imagens são muito fortes para mim, quais seja, a presença de uma quantidade enorme de estudantes estrangeiros que vai à Qom para estudar religião (e faz como que a cidade se transforme numa Babel, tal a quantidade de linguais que são faladas por eles) e a gentileza do iraniano. Um povo com certas peculiaridades que somente vivendo algum tempo no país torna-se possível compreendê-las. Mas um povo que ama o Brasil. Basta dizer a palavra mágica que “você é do Brasil” e todas as portas e gentilezas aumentam. Nunca imaginei que um povo tão distante gostasse tanto do Brasil. Essa forma carinhosa de tratar os brasileiros, levarei na lembrança, pra sempre!

13 - Uma palavra final para os leitores.
Gostaria muito de agradecer pela oportunidade que tive de ir ao Irã para concluir minhas pesquisas. Nesse sentido, entendo que seja fundamental destacar o serviço que a fundação dirigida pelo brasileiro Rodrigo Jalloul desenvolve no Irã. Por ser o único brasileiro na Universidade Al-Mustafa que estuda religião, acaba sendo um contato valioso para os estudantes e pesquisadores que pretendam ir ao país. A Friends of Islam Foundation – International foi a responsável por todo o processo que me levou a desenvolver a fase final de minha pesquisa no Irã. Através dela fui recebido pela Al-Mustafa International University e tive toda a estrutura disponível para concluir meu trabalho. Esse é um agradecimento que tenho de fazer porque encontrei profissionais preocupados em atender minhas necessidades acadêmicas, quaisquer que fossem. Muito obrigado.