sexta-feira, 26 de junho de 2009

PROTESTOS NÃO PODEM ATINGIR GOVERNABILIDADE DE AHMADINEJAD

sexta-feira, 26 de junho de 2009, 08:56 | Online

Talita Eredia, do estadao.com.br

SÃO PAULO - Apesar da onda de protestos que atingiu o Irã desde a eleição de 12 de junho, a governabilidade do presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad não deve ser prejudicada, já que ele conta com o respaldo do regime teocrático. Para o especialista em Oriente Médio e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Renatho Costa, Ahmadinejad continuará privilegiando os setores mais pobres da sociedade, como fez em seu primeiro mandato, mas deve adotar medidas para "acalmar" a classe média, principal participante das manifestações.

Ahmadinejad tem o apoio da maior parte da população do país por conta de sua plataforma de governo que privilegiou principalmente o meio rural, para onde levou infraestrutura e distribuiu auxilio em dinheiro para as famílias. Por outro lado, os desafios econômicos do Irã, pressionados pela inflação, a queda dos preços do petróleo e a alta dos preços de alimentos e produtos básicos enfraqueceram seu respaldo nos centros urbanos.

O analista aponta não deve haver grandes alterações nas políticas governamentais de Ahmadinejad, já que, apesar das denúncias de fraude, ele sai bastante prestigiado da disputa a partir do momento que conta com o respaldo dos líderes religiosos e, em momento algum, o aiatolá Ali Khamenei deixou de apoiá-lo formalmente. Porém, o governo iraniano já percebeu o potencial da classe média, que está nas ruas, para criar movimentos e gerar instabilidade para o regime de modo geral. Por isso, Ahmadinejad deve atender de alguma forma essa parcela da população, fazendo concessões de forma gradual, para reduzir a tensão.

A maior parte da população iraniana - 70% do total - é jovem, nascida após a Revolução Islâmica de 1979, cresceu com a identificação xiita, tem nível de escolaridade alto, mas possui uma ligação muito próxima com o Ocidente. Apesar disso, não há grande insatisfação com relação ao regime teocrático, tanto que era possível notar nos protestos da oposição pôsteres do aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da República Islâmica. Renatho Costa aponta que a população respeita de fato a autoridade do líder supremo, mas hoje questiona uma maior liberdade no país.

O especialista acredita que esses movimentos vão funcionar para que Ahmadinejad reveja seus conceitos, mas sem mudar seu modo de governar de uma forma explicita, pois isso seria uma aceitação de que os protestos podem se tornar um mecanismo para qualquer tipo de reivindicação futura. Se estes movimentos crescerem no Irã, podem ganhar força para cobrar modificações e, em vez de manifestar insatisfação com Ahmadinejad, podem se voltar contra o próprio modelo de Estado iraniano.

Renatho Costa acredita que após com essa crise eleitoral, o povo iraniano tenderá a ser um pouco mais crítico, mas de acordo com as limitações impostas pelo regime. "É inegável que existe esse questionamento da população sobre a votação, para que não existam dúvidas sobre a transparência do pleito. Nesse sentido, essa juventude tem um peso muito grande. Até esse momento, o próprio modelo da República Islâmica não permitia esse tipo de manifestação e, gradualmente, a população foi percebendo que teria espaço para se manifestar", aponta.

"Ahmadinejad vai ter uma dificuldade inicial para acalmar essa população, ainda que os protestos não durem por muito tempo, já que o próprio regime está promovendo medidas mais duras para reprimir as manifestações. O regime já percebeu que não pode entrar no questionamento de sua legitimidade, nem mesmo se importando com o modo como o Ocidente avalia a situação no país".

Abertura gradual

O especialista acredita que o Irã deve promover uma abertura gradual, provocada principalmente por conta da mudança do interlocutor no Ocidente. "A partir do momento que temos um negociador como (Barack) Obama, que parece ser mais propenso à discussão, é muito mais difícil para o governo iraniano, porque ele se atém a um discurso que funcionou muito bem no governo Bush. Criando o Eixo do Mal, Bush fez com que o Irã tivesse um interlocutor forte. Nessa posição, Ahmadinejad foi um interlocutor perfeito. Hoje, a situação internacional mudou. Então, ainda que Ahmadinejad saia fortalecido pelo regime, desde que os EUA também propiciem uma abertura maior, como o próprio Khamenei fala - não fique somente no discurso - será muito difícil que o governo iraniano permaneça fechado", afirma.

Também disponível no link:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,protestos-nao-devem-atingir-governabilidade-de-ahmadinejad,393486,0.htm

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